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Uma nova geração de líderes jovens africanos está atendendo ao desafio de missões. Muitos jovens profissionais e universitários estão respondendo ao chamado para servir em áreas estratégicas de envolvimento missionário.

Missões da África

É uma prática comum em Gana para milhares de universitários cristãos de diversas denominações passarem de três a quatro semanas de suas férias de verão envolvidos com programas como o de Evangelismo de Estudantes na Igreja (Students-In-Church Evangelism – SICE). Eles contribuem de formas dinâmicas para a implantação de igrejas locais e missões estrangeiras.

A Igreja de Pentecoste, fundada em Gana em 1962, hoje tem um movimento estudantil e uma associação de jovens profissionais (PensaITI) que está se expandindo. Reporta-se que ela estabeleceu 2.681 missões internacionais de suas 18.426 congregações (chamadas de assembleias) até meados de 2015.[1] Este é um exemplo contemporâneo das igrejas africanas em missões para o restante do mundo, além disso esta história pode ser multiplicada por muitas outras denominações em muitos outros países africanos.[2]

Missões globais colaborativas

Qualquer reflexão cuidadosa sobre liderança na igreja do século 21, dentre muitas outras questões complexas, envolverá uma consideração cuidadosa sobre as transições e transformações que ocorrem na igreja africana e em outros continentes do hemisfério. Samuel Escobar bem observa que: “A missão cristã no século vinte e um se tornou responsabilidade da igreja global. Está claro que o Deus que chamou Abraão para formar uma nação, e que se revelou finalmente em Jesus Cristo, pretendia que sua revelação alcançasse toda a humanidade.’[3]

Esta realidade fortalece nossa alegria em compartilhar nossos esforços globais de missões à medida que ardentemente continuamos a orar com sinceridade: “venha teu reino!”. A diversidade global da igreja como comunidade do povo de Deus apresenta o desafio de interdependência, relacionamentos e estruturas que precisam ser nutridas para que se formem parcerias efetivas para a missão da igreja.

Uma comunidade global de fé com um mandato global em comum

Jesus fala aos seus discípulos: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14).  A grande Comissão é “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações” (Mt. 28.19). Nossa missão em comum surge de nossa mesma identidade em Cristo. Nisto deve basear-se todas as reflexões de paradigmas bíblicos para um mentoriamento efetivo de líderes emergentes e fomentação de parcerias de missões.

A experiência de Pedro relatada em Lucas 5 possui muita perspectiva. Estava claro que uma das lições essências que Pedro aprendeu na missão de pescar homens é a necessidade das parcerias. Após a milagrosa pescaria, Lucas relata: “ Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo” (Lc. 5.7). A prioridade dada às parcerias deveria ser normativa na missão de pescadores de homens se a igreja global irá de fato levar à frente a missão de Deus através das culturas e regiões neste século.

Cinco prioridades nas parcerias globais de missões para líderes emergentes no século 21

Cada geração precisará refletir de forma renovada sobre a natureza das parcerias das quais os líderes emergentes precisam para cumprir com a Grande Comissão. Andrew Walls, refletindo sobre o trabalho de David Barrett, observa que:

“A história do cristianismo viu muitas mudanças no centro de gravidade do mundo cristão. Três destas mudanças foram cruciais, pois cada uma levou à uma transformação na expressão cristã. A terceira atingiu seu ponto máximo em nosso século; tem sido o movimento em massa na direção da fé cristã em todos os continentes do hemisfério sul – a África subsaariana, América Latina, certas partes da Ásia e as Ilhas do Pacífico – o que significa que a profissão cristã nos continentes do hemisfério sul agora ultrapassa o hemisfério norte.[4]

1. Novos modelos efetivos de parcerias geográficas

Em primeiro lugar, esta mudança cria a necessidade de um modelo de parcerias geográficas efetivas entre a igreja global no norte e a igreja global no sul. Relacionamentos paternais devem dar espaço ao novo paradigma de parcerias do reino baseadas em confiança, respeito mútuo e compartilhamento de recursos e liderança com um comprometimento em comum pela missão única do evangelho. O triunfalismo, em suas várias expressões, deve ser enterrado tanto no hemisfério norte quanto no sul. Segundo Escobar: “Apesar da mudança do cristianismo para o hemisfério sul, nas próximas décadas a missão cristã para todas as partes do mundo exigirá recursos de ambos os hemisférios para ser bem sucedida’.[5] Para tal, é necessário uma ênfase intencional em eventos transculturais no espírito humilde de Cristo.

2. Novos modelos de parcerias estruturais para missão global

Em segundo lugar, há a necessidade de refletirmos sobre novos modelos de parcerias estruturais para a missão global. Timothy Tennent discute questões estruturais significativas quando observa que: “Desde o século dezenove, a estratégia das missões protestantes frequentemente foi conceituada ao redor do evangelismo de indivíduos em vez da implantação de igrejas, que por sua vez junta o núcleo de uma nova comunidade de cristãos. Pensando em missões, do lado de quem envia, o papel de organizações missionárias paraeclesiásticas especializadas cresce e se torna cada vez mais dominante.’[6]

Em sua reflexão bíblica cuidadosa sobre as duas estruturas da missão de redenção de Deus com relação à igreja de Antioquia e ao grupo missionário de Paulo, Tennent faz duas observações vitais: “Em primeiro lugar, o grupo missionário de Paulo era uma estrutura distinta da igreja local. Em segundo lugar, o grupo missionário de Paulo prestava contas à igreja em Antioquia, e além disso aos líderes sêniores baseados em Jerusalém.’[7]

Muitos líderes emergentes nas igrejas do hemisfério sul são diretamente impactados pelo relacionamento entre a igreja local e as agências missionárias. Há uma nova oportunidade para explorar os relacionamentos estruturais com o atual ressurgimento dos movimentos de plantação de igrejas que buscam enfatizar novamente o papel e o envolvimento da igreja na vanguarda missionária, particularmente nas igrejas do hemisfério sul.

3. Parcerias geracionais efetivas para a missão

Em terceiro lugar, existe a necessidade de refletir sobre parcerias geracionais efetivas para a missão. Quando Jesus comissionou seus primeiros discípulos com a promessa:  “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mat. 28:20), havia nela uma comissão implícita para discipular as próximas gerações também.

Para a igreja se manter vibrante e fiel em sua obediência à missão global através das gerações até o ‘fim dos tempos’, o foco principal deverá ser mantido no desenvolvimento da liderança e na transição da liderança do reino de uma geração para a próxima, sendo mordomos do cumprimento das promessas de Deus na missão global da igreja. Se a igreja tem uma missão, então, ela precisa de líderes de um certo tipo em cada geração. O Compromisso da Cidade do Cabo observa:

“O rápido crescimento da igreja em tantos locais permanece raso e vulnerável, em parte porque falta o discipulado de líderes, e em parte porque tantos usam sua posição para poderes do mundo, status arrogante ou enriquecimento pessoal. Como resultado, o povo de Deus sofre, Cristo é desonrado, e a missão global é enfraquecida.[8]

Como que a igreja global pode desenvolver líderes maduros com mentalidade como a de Cristo para a missão em um contexto cada vez mais diverso? Através da mordomia fiel das transições intergeracionais com parcerias intencionais para o evangelho e a missão global levantará novos líderes em diversos níveis em toda a igreja global.

4. Amizades transculturais autênticas

Em quarto lugar, parcerias efetivas para a missão global irão brotar de amizades transculturais autênticas. Estas seriam amizades que exemplificam e fortalecem nosso relacionamento fundamental em Cristo. Na última noite, Jesus disse aos seus discípulos: “Eu os tenho chamado amigos”, e lhes deu a afirmação: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça”, enfatizando novamente: “Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros” (João 15.15-17).

A amizade tem um impacto muito significativo nas parcerias pelo evangelho. Dana Roberts compartilha uma preocupação: “Será que alguém tem tempo para fazer amizades hoje em dia, ou o serviço transcultural é um tipo de rede global que cai bem num currículo?. Será que a amizade é definida pelo Facebook ao invés de nos colocarmos no lugar do outro?”.

Ela observa que: “No mundo atual de comunicações instantâneas, atenção limitada e desenvolvimento material como missão, as atitudes sacrificiais da amizade são evidência da ética do reino do amor de Deus por todas as pessoas.’[9]

5. A parceria definitiva com Deus na missio Dei

Eu concluo com um desafio para a igreja enfatizar e envolver novamente a prioridade da parceria definitiva com Deus na missio Dei. À medida em que celebramos o crescimento dinâmico da igreja na África e no hemisfério sul, é extremamente importante nos lembrarmos que: “a missão é primeiramente e, antes de mais nada, sobre Deus e seus propósitos de redenção e iniciativas para o mundo, muito diferente de quaisquer ações, tarefas, estratégias ou iniciativas que a igreja possa fazer”.[10]

Este relacionamento com Deus deve ser o fundamento para todas as parcerias com relação à missão global da igreja. Jesus enfatizou essa verdade aos discípulos ao dizer: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações” (Mt. 28.19).

Condicionadas pelo do modernismo, secularização e pós-modernismo, as próximas gerações de líderes de missões precisam escutar, de forma renovada, as palavras de instrução de Jesus aos discípulos: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (Jo 15.5). Tennent nos lembra que a teoria e a prática de missões podem ser resumidas como: “O Pai é quem envia, o Senhor da colheita; o Filho é o modelo encarnado da missão no mundo; e o Espírito Santo é a presença divina de empoderamento para toda a missão.”[11]

O reino de Deus é somente estabelecido através do poder de Deus. Esta dimensão suprema de parceria com Deus pode tornar possível completar a missão global (Ap 7.9-10). Ao celebrarmos o crescimento dinâmico da igreja em termos globais, é hora de nos envolvermos com a próxima geração de líderes da missão global ao abraçarmos o desafio e a beleza das parcerias do reino pelo evangelho.

Notas de Rodapé

  1. The Church of Pentecost, 2015 Mid-Year Statistical Report (Updates can be accessed at http://thecophq.org/overview.php).
  2. Editor’s Note: See article entitled ‘Engaging the Church in Africa in its Key Mission Issues to 2050’ by Rudolf Kabutz in the November 2015 issue of Lausanne Global Analysis.
  3. Samuel Escobar, The New Global Mission: The Gospel from Everywhere to Everyone (Downers Grove, Ill: IVP Academic, 2003), 12.
  4. Andrew F Walls, The Missionary Movement in Christian History: Studies in the Transmission of Faith, 1st ed (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1996), 68.
  5. Escobar, The New Global Mission, 18.
  6. Timothy Tennent, Invitation to World Missions: A Trinitarian Missiology for the Twenty-First Century, 2nd ed (Grand Rapids, MI: Kregel Academic & Professional, 2010), Kindle loc 4911.
  7. Ibid, Kindle loc 4981.
  8. Chris Wright, ed, The Cape Town Commitment: A Confession of Faith and a Call to Action (South Hamilton, Mass: Hendrickson Publishers, 2011), II-1-C.
  9. Dana Roberts, ‘Cross-Cultural Friendship in the Creation of Twentieth-Century World Christianity’, International Bulletin of Missionary Research, http://www.internationalbulletin.org/issues/2011-02/2011-02-100-robert.html, accessed 25 April 2016.
  10. Tennent, Invitation to World Missions, Kindle loc 492.
  11. Tennent, Invitation to World Missions, Kindle loc 718.

Nana Yaw Offei Awukuwas, Diretor Regional de Lausanne para os países da África de fala inglesa, portuguesa e espanhola (AFIPE) até setembro de 2016. Nana Yaw faz parte da equipe da União Bíblica de Gana há mais de vinte anos e atualmente serve na equipe sênior de gerenciamento como o Diretor de Ministérios de Campo. Nana é casado com Beth e eles vivem em Gana com seus três filhos. Ele atualmente está numa licença de dois anos do Seminário Teológico Gordon-Conwell, em Boston. Nana foi convidado pelo Movimento de Lausanne para atuar como diretor da iniciativa Geração de Líderes Jovens (GLJ).