Global Analysis

Como podemos finalmente alcançar os não-alcançados?

Um modelo global em vez de um internacional pode ajudar

Ben Thomas mar 2018

A paisagem do Cristianismo global mudou drasticamente desde 1910. Entre 1910 e 2010, o número de missionários aumentou de 62 000 para 400 000.[1] No entanto, apesar do aumento, as agências de missão e desenvolvimento ainda estão a lutar para alcançar os não-alcançados com o evangelho. Eu defendo que uma das razões para isso é que muitas organizações estão a operar a partir de um modelo internacional em vez de um modelo global:

  • Muitas agências de missão e desenvolvimento operam a partir do que Gundling, Hogan e Cvitkovich descrevem como uma «empresa internacional: modelo centralizado, por oposição a uma empresa global: rede horizontal».[2]
  • Aplicando princípios de liderança global, as agências de missão e desenvolvimento podem evoluir de organizações internacionais para organizações globais.
  • Como resultado, servirão melhor os não-alcançados.

Definições Essenciais

Aqui estão algumas definições de termos-chave em liderança global que serão essenciais para percebermos como as organizações se podem tornar globais, em vez de simplesmente internacionais:

Global: uma conexão e colaboração entre várias entidades dentro de uma organização, atravessando culturas e nações, para produzir produtos que sirvam as necessidades locais.

Internacional: um braço ou extensão de uma empresa nacional a fazer trabalho num outro país ou países

Líder global: um estudante ao longo da vida com uma capacidade dada por Deus para influenciar um grupo específico de pessoas na direção dos propósitos de Deus através de culturas e nações, ao mesmo tempo que alcança objetivos pessoais e organizacionais.

Liderança global: um processo ativo e dinâmico que guia pessoas de múltiplos países e culturas na direção da visão a alcançar, independentemente das complexidades presentes.

Organizações globais: operam em ou servem vários países, muitas vezes com uma estrutura matriz em que as subsidiárias partilham deliberadamente informações e conhecimento entre si e com a sede, aprendendo umas com as outras para melhor servir o seu público-alvo em cada país.

Mentalidade global: o que sabemos sobre outras culturas/países; o nosso desejo de aprender mais sobre elas; e como pôr o nosso conhecimento em ação à medida que nos envolvemos e interagimos com pessoas de outras culturas e países

As agências de missão e desenvolvimento precisam de fazer mudanças drásticas perante os desafios dos próximos cem anos.

Como sabemos que temos um problema?

Dados críticos recolhidos por Johnson e Ross sugerem que as agências de missão e desenvolvimento precisam de fazer mudanças drásticas perante os desafios dos próximos cem anos, particularmente em relação ao serviço aos não-alcançados:

  1. O dado mais surpreendente é que, em 2010, «budistas, hindus e muçulmanos têm relativamente pouco contacto com cristãos. Em cada caso, mais de 86% destes religiosos, globalmente, não conhecem pessoalmente um cristão».[3] Embora as agências de missão e desenvolvimento tenham trabalhado bastante, alguma coisa está claramente mal nas nossas estratégias para alcançar não-cristãos, se os religiosos destes três grupos não conhecem cristãos. Os restantes três dados podem explicar porque este número está correto: as estratégias das agências de missão e desenvolvimento correspondem aos resultados que estão a ser vistos.
  2. Mais de 85 por cento das ofertas de evangelismo são dirigidas a cristãos atuais, enquanto apenas dois por cento são dirigidas aos não-evangelizados. «Ofertas de evangelização àqueles que já são cristãos representam mais de 85%, os muçulmanos recebem 2,2% das ofertas de evangelização, os hindus recebem 0,9% das ofertas de evangelização, e os budistas recebem 0,7% do total de ofertas de evangelização.»[4] Por outras palavras, os não-evangelizados recebem dois por cento das ofertas de evangelismo, os já evangelizados mas ainda não cristãos recebem 12,6%, e os que já são cristãos recebem 85,4%.[5]
  3. Em 2010, havia quase 10 vezes mais missionários a trabalhar na América do Norte (40 200) do que no Norte de África (4 300).[6] Existem muito menos missionários a ser enviados aos não-evangelizados do que aos que já são cristãos. «Os missionários hoje em dia são enviados de todo o lado e são recebidos de todo o lado. Mas no que toca a evangelizar não-cristãos, vemos um problema: países com populações amplamente cristãs recebem relativamente mais missionários do que a maioria dos países não-cristãos. Um exemplo dramático disto é o Brasil (um país amplamente cristão), que recebe um total de 20 000 missionários, enquanto que o Bangladesh, com quase tantas pessoas, só recebe 1000 missionários.».[7]
  4. Os cristãos estão a dirigir menos de um por cento dos seus donativos para os não-cristãos não-evangelizados. «Neste momento, cerca de 82% das despesas cristãs são dedicadas aos ministérios pastorais das igrejas nos países de origem dos doadores, sobretudo no coração da fé cristã. Outros 12% são gastos em missões nesses mesmos países, com 5,6% a irem para missões estrangeiras. Contudo, grande parte deste dinheiro é gasto em trabalho entre cristãos (no caso de missões estrangeiras) ou em países afluentes que já têm grandes populações cristãs (no caso das missões domésticas). Como resultado, apenas 0,3% do total de gastos cristãos é na verdade dirigido para não-evangelizados não-cristãos.»[8]

As agências de missão e desenvolvimento precisam de ser intencionais em mudar a abordagem ao seu trabalho.

A necessidade de mudança

Depois de interiorizar estes quatro dados, as agências de missão e desenvolvimento precisam de ser intencionais em mudar a abordagem ao seu trabalho. O resto deste artigo irá examinar se agir como uma organização global poderá ajudar as agências de missão e desenvolvimento a atingir melhor os seus objetivos, e permitir-lhes fazer um melhor trabalho a alcançar os não-alcançados.

Conclusões Principais sobre Agências Globais

Uma investigação com uma pequena amostra de ONG e agências missionárias a trabalhar no Ruanda, com sede internacional ou global noutra região, produziu as seguintes conclusões[9] sobre as características específicas que distinguem organizações globais de internacionais:

  1. As agências globais não definem as suas agendas nacionais a partir da sede, mas dos seus escritórios nacionais.
  2. Decisões estratégicas que dizem respeito aos escritórios nacionais são determinadas pelos escritórios nacionais.
  3. As agências globais partilham a responsabilidade de financiamento entre os escritórios nacionais e a sede global.
  4. Decisões finais relativas ao pessoal são feitas pelo escritório nacional, em conjunto com a sede quando apropriado.
  5. Os diretores nacionais têm acesso ao nível mais alto de liderança da organização.
  6. Uma formação completa dos diretores nacionais é uma parte fundamental do processo.
  7. As agências globais têm sistemas adequados para a colaboração entre os escritórios nacionais e a sede.
  8. Também têm sistemas adequados para a colaboração entre países e entre estratégias em toda a organização, independentemente de onde qualquer pessoa na empresa esteja localizada.

Lições Retiradas das Conclusões

  1. Existem várias formas de levar a cabo uma missão. Embora haja semelhanças na forma como algumas agências funcionavam, e objetivos semelhantes para a sua missão e visão, cada uma era única na forma como procurava atingir a sua missão.
  2. Os líderes mais satisfeitos eram aqueles cujas estruturas e processos organizacionais eram voltados para as pessoas e não para a estrutura.
  3. Todas as organizações e líderes deveriam procurar ser globalmente sensíveis à medida que se movem para atingir a sua missão a todos os níveis da organização.
  4. As organizações e líderes que servem globalmente devem ser intencionais na sua formação e desenvolvimento de liderança, especificamente na área de formação de uma mentalidade global.
  5. Para se tornarem mais globais, as ideias e práticas precisam de ser partilhadas além-fronteiras. Os membros e líderes da organização no sul global devem ser ouvidos, uma vez que estão mais próximos dos desafios dos não-alcançados.
  6. Para se tornarem mais globais, as organizações precisam de aprender como as sedes podem partilhar mais poder com o terreno.
  7. Em várias entrevistas com os líderes de escritórios nacionais, as frustrações eram evidentes quando a Direção era composta sobretudo por membros do país fundador. À medida que uma organização evolui de nacional para global, os membros da Direção devem refletir a diversidade de toda a organização, e não apenas do país fundador.
  8. Os processos de colaboração intencional são vitais para a capacidade de uma organização de aprender.
  9. Uma postura intencional de aprendizagem é crucial para o sucesso de qualquer organização global ou líder global.

Aplicações

De muitas formas, este estudo continua e está ainda por terminar. O autor está a fazer mudanças na sua própria vida e ministério para se focar mais em servir os não-alcançados através da plataforma de educação. O autor não tem dados para fornecer de organizações atualmente a servir os não-alcançados, uma vez que o Ruanda não tem grupos de pessoas por alcançar. Tendo dito isto, o autor sugere as seguintes aplicações para as igrejas e agências de missão e desenvolvimento no seu trabalho com não-alcançados:

Cada líder e organização deve considerar fazer uma breve autoanálise para determinar se é global ou internacional. Conforme o resultado, poderão determinar os passos seguintes para uma maior eficácia em chegar aos não-alcançados. Se as organizações e líderes quiserem ser mais intencionais, em que área específica podem concentrar-se para se tornarem mais globais?

Dentro de cada organização, já existem estratégias úteis para considerar no serviço aos não-alcançados. Os líderes e as organizações podem considerar pegar no que funciona e desenvolver os seus pontos fortes. Podem considerar redistribuir os seus recursos e pegar no que aprenderam para chegar aos não-alcançados. Como podem capacitar-se a si próprios ou àqueles com um chamado para os não-alcançados, mesmo que não estejam na sua organização, para serem equipados com uma estratégia comprovada nesta missão?

Como pode cada líder e organização comprometer-se a servir melhor dentro da comunidade global de cristãos por amor ao evangelho? No nosso tempo, existem tantas divisões no seio da família global de Cristo. Que passo específico pode cada líder e organização dar para aprender mais sobre outro membro do corpo de Cristo? De que forma pode isto mostrar melhor o amor de Cristo? Como pode isto melhorar a capacidade de cada líder e organização para servir os não-alcançados?

Os não-alcançados serão mais bem servidos por organizações com princípios de liderança global.

Conclusão

Embora os dados partilhados em cima se limitem a organizações no Ruanda, o autor acredita que estes podem ser aplicados a agências de missão e desenvolvimento em todo o mundo. O autor pretende expandir os seus dados para incluir organizações a servir entre os não-alcançados para melhor formular as suas conclusões. Tendo dito isto, o autor acredita que as nossas estratégias em missão e desenvolvimento precisam claramente de mudar, já que tantos esforços de missão atuais estão apontados aos alvos errados.

Com base na sua investigação, o autor acredita que os não-evangelizados são melhor servidos por organizações com uma liderança global. Estas organizações representam com mais eficácia a diversidade do cristianismo global e têm maior probabilidade de encorajar uma contextualização local do evangelho. Embora o autor acredite que os princípios das organizações de liderança global serão mais adequados para servir os não-alcançados com o Evangelho, ele convida os leitores a juntarem-se a uma discussão para testar as correlações que parecem existir. Como resultado da implementação de alguns dos princípios de liderança global vistos acima, que mais hindus, muçulmanos, budistas e outros ainda não-cristãos possam conhecer Jesus através de relacionamentos pessoais com seguidores de Cristo.

Endnotes

  1. Todd M. Johnson and Kenneth R. Ross, Atlas of Global Christianity 1910 – 2010 (Edinburgh: Edinburgh University Press, 2009), 261.
  2. Ernest Gundling, Terry Hogan, and Karen Cvitkovich, What is Global Leadership?: 10 Key Behaviors that Define Great Global Leaders (Boston: Nicholas Brealey Publishing, 2011),79-80.
  3. Johnson and Ross, Atlas of Global Christianity, 316.
  4. Ibid, 318.
  5. Ibid, 318.
  6. Ibid, 261.
  7. Ibid, 261.
  8. Ibid, 296.
  9. Benjamin Thomas, Global Leadership: Helping Mission & Development Organizations and Leaders Navigate the Path From Being International to Being Global, Dissertation for Gordon-Conwell Theological Seminary, Hamilton, MA, 2016.