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AlicerceReferência
PropósitoNações santas governadas de acordo com os princípios do Reino «… a guerra espiritual é para o bem das nações; os discípulos foram enviados para fazer nações-discípulo de Jesus. Por isso, primeiro que tudo: estará a Igreja consciente desta tarefa primordial?»’[1]
Precceito«Mas quando os próprios fundamentos se abatem, que pode então fazer o justo?» Salmo 11:3
PrecedenteAbraão e a aliança com Israel.
PráticaA Serra Leoa lançou alicerces santos e o seu povo e a sua terra prosperaram.
A Serra Leoa lançou alicerces ímpios e o seu povo e a sua terra caíram.
Padrão
Alicerces ímpios levam a uma nação atormentada.Alicerces santos levam a uma nação próspera e pacífica.
Revelação; Arrependimento; Reconciliação; Restauração

«Sem salvação do pecado, não há salvação dos ‘poderes do maligno’». Keith Ferdinando[2]

Visão geral

O colapso das Torres Gémeas a 11 setembro de 2001, com a perda de mais de 5000 vidas, não foi um problema de alicerces. Foi diretamente atribuído ao impacto dos aviões.

No fim, elas caem ou prosperam com base na força espiritual dos seus alicerces: arenosos e instáveis, ou robustos e estáveis.

Contudo, a verdadeira, embora indireta, causa do colapso físico foi não-física. Foi uma falha nos sistemas de segurança que teria impedido o ataque desde o início. As nações podem não colapsar de forma tão dramática como as Torres Gémeas. Contudo, no fim, elas caem ou prosperam com base na força espiritual dos seus alicerces: arenosos e instáveis, ou robustos e estáveis.

A Serra Leoa ilustra o papel frequentemente esquecido dos alicerces no determinar do destino de uma nação. A Serra Leoa foi pioneira no cristianismo, no comércio e na civilização na África colonial. Os escravos libertos — mais tarde conhecidos como crioulos — que atravessaram o Atlântico desde a Nova Escócia com a ajuda da Fação de Clapham em Londres, eram cristãos que se viam como israelitas libertos da escravatura no Egito. Ao desembarcarem, a 11 de março de 1792, fundaram a Freetown na Serra Leoa e dedicaram-na a Deus através de uma aliança.

A Serra Leoa prosperou como um farol de luz ao longo de 150 anos, famosamente conhecida como a «Atenas de África», por abrir a primeira universidade e escolas secundárias na África subsariana: Fourah Bay College em 1827, a Grammar School em 1845, e a escola para raparigas Annie Walsh em 1849, criada com a ajuda da Church Mission Society.

No entanto, o sucesso da Serra Leoa desmoronou-se rapidamente, depois de lançar alicerces ímpios ou idólatras na sua independência a 27 de abril de 1961. Deslizou da prosperidade para a pobreza extrema, no meio de recursos abundantes, juntamente com múltiplas catástrofes como guerra, pestilência, pobreza e desastres.

Misericordiosamente, em 2014, a igreja começou a compreender os alicerces sangrentos de 27 de abril na Serra Leoa e começou o processo de redimir a terra, com resultados encorajadores. Este artigo foca-se nos alicerces instáveis e desestabilizadores da Serra Leoa e as lições aprendidas.

As boas notícias são que há princípios, preceitos e precedentes bíblicos claros na base da experiência da Serra Leoa, com os quais a igreja de outras nações podem aprender. Isto permitir-lhes-á descobrir e lidar com as raízes escondidas de problemas estruturais que frustram os seus esforços nacionais para um desenvolvimento sustentável.

O massacre de 27 de abril

A 27 de abril de 1898, teve lugar um massacre no sul do protetorado britânico da Serra Leoa, mais tarde conhecido como a «guerra ao imposto de palhota». Os guerrilheiros da temida sociedade secreta Poro ergueram-se por todo o território mende num ataque surpresa aos missionários e cristãos (crioulos) simpatizantes dos britânicos. O registro de Charles Braithwaite Wallis é útil:

Um dos piores assassinatos que teve lugar durante todo o surto foi o de Mr. T. Johnson e da sua irmã, uma rapariga de dezoito anos, apanhados escondidos numa aldeia chamada Deparli, em Jong. Foram amarrados, despidos, e terrivelmente chicoteados. Depois, foram obrigados a andar até Tihun, em Small Boom, a várias horas de viagem, onde foram apresentados ao chefe, um homem chamado Vandi, que imediatamente ordenou que fossem mortos. Foram então chicoteados de novo na presença de um grande número de pessoas, e tiveram de regressar, a cargo de um grupo de guerrilheiros, a Deparli. Quando chegaram, os guerrilheiros amarram Johnson a uma árvore e a irmã a outra árvore, à vista um do outro. Um homem apareceu com uma faca, e depois de alguma dificuldade conseguiu cortar uma das orelhas de Johnson. A orelha de Miss Johnson também foi cortada. A seguir, vários rufiões seguraram um, depois o outro, e cortaram-lhes as línguas. Foram deixados nesta posição durante algumas horas, e de seguida carregados para o mato e lançados numa fogueira que tinha sido preparada para os receber. Se estavam mortos ou não quando isto aconteceu, não fui capaz de apurar. Esperemos que sim. Foram cometidos três outros assassinatos nesta aldeia de Deparli ou perto dela, e infelizmente os criminosos nunca foram apanhados.[3]

Tão horrendo foi este massacre de 27 de abril de mais de 2000 crioulos e missionários que, a 18 de junho de 1898, a Rainha Vitória ordenou um inquérito sobre «uma insurreição dos nativos do nosso protetorado . . . acompanhado por assassinatos e atentados aos nossos súbditos e outras pessoas»[4]

Lançar os alicerces

Surpreendentemente, os descendentes dos autores do massacre escolheram o dia 27 de abril para inaugurar o Partido Popular da Serra Leoa (SLPP) em 1951. Dez anos mais tarde, na independência, em 1961, o partido SLPP em vigor escolheu a mesma data para os britânicos lhes entregarem a Serra Leoa. Pareceu que, de um dia para o outro, a adoração de Deus foi apagada da vida governamental e socioeconómica desta nação emergente. Na véspera da independência, cerca de 1200 pessoas mascaradas de demónios desceram sobre Freetown numa parada de vitória ritual. Ela repete-se a cada Dia da Independência, com máscaras de demónios em substituição da ação de graças em todas as cidades principais da Serra Leoa — mas não sem sérias consequências. Como diz Habacuque: «Ai de quem constrói uma cidade com sangue e a edifica através da injustiça» (Hab. 2:12). A Serra Leoa viu realmente mais do que a sua quota-parte de desgraças.


Uma placa neste memorial em Tikonko, no Distrito Bo, diz: «In Memoriam — Timothy Campbell, Theo Roberts e Reverendo J.C. Johnson, 1898». Missionários vítimas da guerra ao «imposto de palhota». Foto: Paul Basu

Consequências

Desde o assassinato de Abel, o julgamento vem em resposta ao derramamento injusto de sangue; e «é preciosa para o Senhor a morte dos seus fiéis» (Salmo 116:15).

A idolatria e a adoração ao diabo também atraem desgraça, de acordo com a Bíblia. Pois, «as dores se multiplicarão àqueles que fazem oferendas a outro deus» (Salmo 16:4). De facto, o julgamento divino parece manifestar-se de três formas principais, de acordo com Jeremias: «Antes os farei morrer na guerra, e os aniquilarei pela fome e pela doença.» (Jer. 14:12); e a Serra Leoa sentiu todas as três com um efeito devastador.

Julgamento de fome: o colapso económico de 1980

Apesar de ser uma das nações mais ricas em termos de recursos naturais (desde produtos minerais a marinhos e agrícolas) a Serra Leoa está sempre entre as mais pobres. De uma economia do tamanho da Malásia e Singapura juntas na década de 1960, está agora em terceiro lugar a contar do fim no Índice Global da Fome, um instrumento de observação de Harvard. Empresas libanesas e chinesas estão a consumir a sua abundância de ouro, diamantes, minério de ferro, rútilo, com poucos benefícios para a nação. Em 1964, o leone valia mais do que a libra esterlina. Hoje, 9000 leones não equivalem a uma libra.

Julgamento de guerra: a guerra de 1991 – 2002

Mais de 50 000 serra-leoneses perderam a vida na absurda mas cruel guerra de 11 anos. As infra-estruturas foram destruídas e o país esteve à beira da anarquia. Deu lugar à maior missão de manutenção de paz na história da ONU.

Julgamento de doença: a epidemia de ébola 2014 – 2015

A 25 de maio de 2014, o ébola atingiu a Serra Leoa, paralisando o país durante quase um ano. O número conservador de mortes oficial chega quase aos 4000; e muitos mais sobreviventes ficaram permanentemente marcados.

Lidar com alicerces malignos: Lições práticas da Serra Leoa

Muitos cristãos na Serra Leoa acreditam que, antes de Deus redimir a Serra Leoa das suas lutas, os cristãos devem primeiro juntar-se para confrontar o «reino marinho».[5] O reino marinho é uma referência às poderosas forças espirituais que se acredita atuarem em rios, lagos e oceanos. São a fonte de poder usada por sociedades secretas — a cultura das «Sereias» ou da «Rainha da Costa» (Mammy wata).[6]

Revelação: Deus revela para redimir.

Depois de muita introspeção, investigação e oração, a verdade sobre a situação na Serra Leoa pareceu tornar-se clara para nós; e é nossa convicção que ela está relacionada com o conflito espiritual expresso na aliança de 11 de março (ver em baixo) e nos alicerces sangrentos de 27 de abril.

Arrependimento: Quando sangue justo é derramado, acarreta sempre graves consequências.

Retiramos encorajamento da experiência da igreja nas ilhas Fiji, documentada no filme ‘Fiji Transformation’. Aí, a igreja passou — em massa — por um arrependimento pelo assassinato e canibalismo de um missionário branco por fijianos mais de um século antes. As pessoas acreditam que uma melhoria das circunstâncias se tornou possível quando a maldição sobre as Fiji foi levantada através do arrependimento.

Entre muitas outras coisas, foi realizada uma cerimónia notável de arrependimento e rededicação no 222.º aniversário da Aliança da Serra Leoa a 11 de Março de 2014. Ela atraiu dignitários-chave, incluindo ministros de Estado e da igreja. Um excerto da declaração do Presidente de Freetown, Sam F. Bode Gibson, diz:

Arrependemo-nos hoje dos nossos caminhos errados, que nos viram deslizar do topo para o fundo dos indicadores de desenvolvimento humano. Passámos de um povo iluminado, uma nação de professores, para um povo de ignorância, analfabetos, em necessidade de professores. A nossa Graça transformou-se em erva seca. O nosso doce em amargo. A nossa luz em escuridão. Reduzida a um vale de ossos secos . . .  Proclamamos julgamento divino sobre todas as formas de idolatria! Declaramos uma peregrinação anual para renovar esta aliança da terra com o Deus Altíssimo![7]

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Restauração dos alicerces justos

No ano passado, pela primeira vez, no aniversário de 27 de abril, a igreja foi para as ruas de Freetown e outros lugares numa marcha profética de louvor e oração. Isto representou um ponto de viragem para o país, uma vez que, mesmo em feriados cristãos como os festivais de rua da Páscoa, existem «máscaras de demónios». Através do papel coordenador dos Intercessors for Sierra Leone (IFSL), liderado pela School of the Apostles and Prophets (SOAP), e em colaboração com o corpo de Cristo e autoridades governamentais, realizaram-se várias atividades para reclamar a terra. Essas atividades incluem:

  1. Oração e jejum coordenados a nível nacional.
  2. Operações proféticas contra cultos idólatras e máscaras de demónios nas quais o Parlamento, a Casa do Presidente e o sistema judicial estão todos envolvidos.
  3. Ensinar pastores e intercessores sobre a aliança de 11 de março e os alicerces instáveis de 27 de abril: formando-os para dominar forças ocultas nas montanhas e nos rios.


Sam F.B. Gibson makes his Mayoral proclamation in 2014.

Conclusão

Como a Serra Leoa, muitas nações estão vacilantes sobre alicerces ímpios. Os peritos lutam para conter os efeitos físicos — crime, corrupção, violência, vício e pobreza — de causas espirituais. Apenas os cristãos podem começar o trabalho de discipular a sua nação, seguindo e redimindo a raiz do problema — alicerces apodrecidos. É esta consciência que este artigo espera trazer.

Endnotes

  1. Pieter Bos, The Nations Called (Sovereign World, 2002), 314.
  2. Keith Ferdinando, The Triumph of Christ in African Perspective: A Study of Demonology and Redemption in the African Context (Carlisle: Paternoster, 1999), 397.
  3. Charles Braithwaite Wallis, The Advance of Our West African Empire (London: TF Unwin, 1903), 139-40.
  4. See ‘Report by Her Majesty’s Commissioner and Correspondence on the Subject of the Insurrection in the Sierra Leone Protectorate, 1898’ (London: Darling & Son, 1899), 3.
  5. Editor’s Note: No source cited for this quotation.
  6. For similar descriptions in ancient biblical culture, see Psalm 74:13-15.
  7. Editor’s Note: No source cited for this quotation.

Bowenson F. Phillips trabalhou como o administrador principal da Câmara de Freetown (2008 – 2011), e é um consultor de gestão e desenvolvimento na FJP, com uma pós-graduação em Administração Pública no Institute of Public Administration and Management (IPAM) da Universidade de Serra Leoa (2003). Foi pioneiro dos Intercessors for SL (IFSL) e da School of the Apostles and Prophets (SOAP), e trabalha como Presidente do Comité na Pentecostal Fellowship of Sierra Leone (PFSL).

Jenny James-Taylor é uma jornalista britânica e autora com a editora Bloomsbury que foi pioneira na literacia religiosa no jornalismo, fundando a Lapido Media em 2007. Tem um doutoramento em Islão e Secularismo, e é uma Honorary Research Fellow no Kirby Laing Institute for Christian Ethics, uma Fellow da Royal Society of Arts, e membro do Theological Advisory Group (TAG) da Aliança Evangélica. Vive em Londres e Suffolk.