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Conduzindo sikhs ao ‘derradeiro guru’

nutrir as sementes de um jovem movimento global

Sadiri Joy Tira 11 mar 2020

Em outubro de 2018, alguns amigos punjabi convidaram-me para almoçar e apresentaram-me a um pastor cristão punjabi de origem sikh (Cristão de Origem Sikh, SBB — Sikh Background Believer). Ele contou-nos que se converteu ao ler a Bíblia de uma ponta à outra. Decidiu seguir Jesus, foi batizado e inscreveu-se num instituto bíblico. Consequentemente, foi discipulado e treinado para evangelização e ministério. Eu senti que devia orar intencionalmente e alcançar os sikhs, globalmente dispersos, na minha comunidade.

A minha jornada com os sikhs

O meu primeiro encontro com a comunidade sikh foi como criança no sul das Filipinas. Mesmo vivendo numa cidade nova e remota, tinha colegas sikh cujos pais trabalhavam no setor financeiro. Em Manila, na década de 1970, conheci muitos sikhs nos cursos de engenharia da minha universidade. Quando a minha nova família chegou ao Canadá em 1981, as primeiras pessoas que conhecemos no aeroporto foram sikhs punjabis. O Dr J.D. Payne escreve acerca dos «estranhos da casa ao lado», incluindo os meus vizinhos sikhs punjabi, que ele descreve como um povo largamente não alcançado na América do Norte.[1] Olhando para trás, consigo ver que Deus, ao longo da minha vida, direcionou o meu coração para o povo sikh.

Em 1988, quando a congregação filipina que pastoreei em Edmonton começou a procurar a sua primeira propriedade, escolheu a da Sociedade Gurdwara Siri Guru Singh Sabha, em Edmonton ocidental. Depois de dois anos a utilizar o edifício, quando a congregação decidiu fazer obras, os diáconos encontraram, entre as paredes, as imagens de dez ‘mestres espirituais’ que contribuíram para o estabelecimento do sikhismo.[2] Descobrimos que o plano dos donos originais era que a propriedade fosse usada como um Gurdwara, e que as imagens fossem uma fonte de ensino e proteção para a comunidade. Naquela altura, eu não sabia que Deus estava a trabalhar providencialmente para que eu vivesse e trabalhasse entre os sikhs, um dos povos menos alcançados e envolvidos em diáspora.[3]

Os sikhs são praticantes do sikhismo, uma religião monoteísta fundada em Punjab, na Índia, em 1469, pelo Guru Nanak Dev.

Quem são eles? Onde estão eles?

Os sikhs são praticantes do sikhismo, uma religião monoteísta fundada em Punjab, na Índia, em 1469, pelo Guru Nanak Dev. Hoje, o sikhismo é a quinta maior religião no mundo.[4] Estima-se que existam 27 milhões de seguidores na Índia e globalmente. Embora a maioria se encontre em Punjab e no norte da Índia, há um grande número em diáspora:

  • De acordo com o World Atlas, o Canadá, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Malásia têm o maior número de sikhs fora da Índia.[5]
  • Existem também populações consideráveis no Quênia, Uganda, Tanzânia, Tailândia e Maurícia.[6]
  • De acordo com M. Sudhir, a trabalhar nas Filipinas, existem atualmente cerca de 50.000 sikhs nas Filipinas.[7]

O centro de adoração e vida social dos sikh é o Gurdwara. Os Gurdwaras estão presentes em comunidades com grandes populações sikh.

Ao contrário dos hindus, que são politeístas, os sikhs são monoteístas, como os cristãos. Além disso, como o Cristianismo, o sikhismo ensina que todos os humanos são criados iguais e enfatiza uma vida de adoração, disciplina e serviço. Estes pontos comuns são pontes para discussão e construção de relacionamentos.

Nos últimos anos, tem havido relatos crescentes de sikhs que decidem seguir Jesus na Índia e nas comunidades da diáspora. Dois sikhs que decidiram seguir Jesus Cristo e a seguir se tornaram ministros proeminentes do evangelho são Sadhu Sunder Singh e Bhakt Singh.

Os sikhs são também influentes em todas as esferas da sociedade. No Canadá, por exemplo, estão representados em todos os níveis do governo [8] e em todos os setores do local de trabalho. Para que haja um impacto do reino onde eles se encontram, os cristãos devem interagir com os sikhs e levá-los ao ‘derradeiro guru’, Jesus Cristo. Evangelismo de amizade é uma metodologia comprovada que usa as ferramentas disponíveis de evangelização e discipulado. Contudo, também é necessário apologética para defender a fé cristã.

The Gurdwara, Harmandir Sahib em Amritsar, India

A resposta do Movimento de Lausanne

Ao terminar o meu mandato como Catalisador de Diásporas do Movimento de Lausanne, é com alegria que vejo o Movimento abraçar os sikhs, como demonstrado pelo apoio e patrocínio da primeira Consulta Global Sikh (GSC — Global Sikh Consultation).[9]

Pelo menos 68 participantes de dez países estiveram presentes na consulta, que teve lugar em Edmonton, em Alberta, em outubro de 2019. Foram recebidos em Edmonton por um comité organizador que incluía dois canadianos de ascendência indiana, quatro filipino-canadianos e um chinês-canadiano.

O GSC foi convocado por duas grandes razões:

1. Foco em atraso

Embora o sikhismo seja a quinta maior religião no mundo, com adeptos dispersos globalmente, não existe nenhum Catalisador do Movimento de Lausanne e, antes do GSC, não havia nenhuma rede global entre cristãos de origem sikh. Nos últimos 45 anos, o sikhismo só tinha sido mencionado duas vezes em documentos de Lausanne.[10] Tanto quanto se sabia, nunca houvera um único relatório, artigo ou vídeo sobre o tema. Por isso, esta consulta era há muito devida. Ouvem-se relatos acerca do movimento de Deus entre os sikhs punjabi em casa e no estrangeiro. Se eles forem verdade, a igreja global deve ser convocada a orar e a fazer chegar recursos a estes novos crentes em Cristo.

2. Sementes plantadas

Alguns cristãos de origem sikh dizem que os gurus sikh retiraram parte do seu ensino ético e moral da Bíblia Sagrada. Após mais de 500 anos, as sementes plantadas na vida destas pessoas estão a germinar e a dar fruto. Se esta observação estiver correta, os cristãos precisam de acelerar a plantação de sementes, o discipulado, a plantação de congregações locais, e o desenvolvimento de líderes entre cristãos de origem sikh.

Estes fatores por si mereciam uma consulta especial.

Resultados concretos

Os resultados tangíveis incluem a adoção do apelo Edmonton (The Edmonton Appeal),[11] a criação do Grupo de Trabalho Sikh (LSWG — Lausanne Sikh Working Group) e a designação do dia 12 de novembro como Dia Global de Oração pelos Sikhs. Além disso, está a ser desenvolvida uma versão em sikh de um novo recurso evangelístico, Have You Heard.[12]

Muitos participantes fizeram comentários entusiásticos sobre o GSC. Alguns disseram que se sentiram desafiados e comovidos ao ver a paixão e dedicação mostrada pelos filipinos e chineses a trabalhar com tanto afinco para alcançar o povo sikh. Também se sentiram encorajados por saber que muitos trabalhadores fiéis na vinha estavam a alcançar amigos sikhs por todo o mundo.  Como resultado, comprometeram-se a criar estratégias e implementar ministérios entre sikhs, mobilizando cristãos e igrejas locais para os alcançar e discipular.

Outros disseram que valorizaram a ligação com pessoas que pensavam como eles e a oportunidade de orar em conjunto para que o Senhor enviasse trabalhadores para a colheita, para que o reino de Deus cresça entre os sikhs. Tiveram a bênção de estar reunidos com tantas pessoas a trabalhar para alcançar os sikhs, e de adorar Jesus com pessoas de todo o mundo.

O GSC foi uma resposta à oração, dando-lhes uma nova motivação para se manterem focados na missão.

Para muitos, o GSC foi uma resposta à oração, dando-lhes uma nova motivação para se manterem focados na missão. Uma pessoa sentiu-se tão incentivada com o trabalho de Deus nesta área, especialmente na África e Filipinas, que saiu determinada a criar uma rede de ministérios internacionais de trabalho entre os sikhs.  Outros sentiram que tinham aprendido muito com outros participantes acerca dos desafios e oportunidades para interagir com eles.

Um líder disse que, como resultado da consulta, o seu ministério tinha adotado seis novas iniciativas: definir a terça-feira como um dia de oração pelos sikhs; organizar orações especiais em feriados sikhs; desenvolver literatura do evangelho para sikhs em punjabi e Devanagari (hindi); trabalhar em módulos de formação para alcançar sikhs; encorajar cristãos de origem sikh; e empoderar mulheres de origem sikh.

O GSC foi um evento de sucesso, mas enfrentou sérios desafios dos quais retiramos lições importantes:

  • A visão foi lançada e implementada sem fundos garantidos. O desencorajamento no meio de incerteza financeira é uma realidade, mas os bolsos de Deus são fundos. Confiar em Deus é melhor do que confiar em «carros e cavalos». O cumprimento da Grande Comissão não deveria ser abrandado por causa de fundos limitados.
  • Antes e durante o evento, os organizadores enfrentaram grande oposição. Um organizador teve um acidente de carro que poderia ter sido trágico; um membro do comité foi assaltado com uma arma na sua empresa nos subúrbios de Edmonton; e durante o último dia da consulta, o tesoureiro do comité e responsável pela logística teve um ataque cardíaco que poderia ter sido fatal. É interessante o facto de estes três organizadores serem etnicamente filipinos e chineses, a servir a causa de Jesus para além das suas tribos.

Agora pergunto-me acerca da importância das imagens dos dez gurus sikh descobertos entre as paredes do edifício da igreja filipina. O que queria dizer o apóstolo Paulo quando escreveu aos Efésios: «pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais» (Ef. 6:12)?

Deus orquestrou o plano de plantação da semente nos corações de muitos sikhs na Índia e espalhados pelo mundo, longe da sua pátria.

Implicações

O «convite de oração» pelo povo sikh feito na consulta seria um bom ponto de partida para começar a interagir com sikhs em evangelismo de amizade:

  • Ore por convicção renovada de que cada sikh — homens e mulheres, adultos, jovens e crianças — precisa de descobrir Jesus como o caminho, a verdade e a vida.
  • Ore por criatividade dirigida pelo Espírito na identificação de estratégias para alcançar sikhs e para formar comunidades de seguidores de Jesus que sejam acessíveis a diferentes tipos de sikhs.
  • Ore por humildade e amor para com companheiros trabalhadores em Cristo e pela capacidade para encontrar novas formas de colaborar uns com os outros como servos-líderes.
  • Ore por uma nova visão para o local de trabalho e pelo povo sikh no local de trabalho, para que se veja impacto do reino em todas as esferas da sociedade em que sikhs se encontram.

Deus orquestrou o plano de plantação da semente nos corações de muitos sikhs na Índia e espalhados pelo mundo, longe da sua pátria. Devemos ser corajosos e persistentes no nosso ministério aos 27 milhões de sikhs, aderentes da quinta maior religião do mundo. A igreja global deve abrir as suas portas, oferecendo hospitalidade e amizade. O Movimento de Lausanne compromete-se a mobilizar «toda a igreja para levar todo o evangelho a todo o mundo». [13] Apoiemos o LSWG em oração e de forma prática, ajudando este jovem movimento a tornar-se um catalisador de ideias, levantando influenciadores para missões globais.

Endnotes

  1. See J. D. Payne, Strangers next Door Immigration, Migration and Mission (Westmont, IL: IVP Books, 2012).
  2. Ver «Sikhism Religion of the Sikh People» (A religião sikh do povo sikh), consultado a 29 de dezembro de 2019, https://www.sikhs.org/10gurus.htm
  3. Editor’s Note: See article by Sadiri Joy Tira, entitled, ‘Diasporas from Cape Town 2010 to Manila 2015 and Beyond, in March 2015 issue of Lausanne Global Analysis https://lausanne.org/content/lga/2015-03/diasporas-from-cape-town-2010-to-manila-2015-and-beyond.
  4. For more on Sikhism, read Ed Stetzer’s post, https://www.christianitytoday.com/edstetzer/2012/august/standing-with-sikh-community-today.html?share=
  5. Ameber Pariona, ‘Countries With The Largest Sikh Populations’. WorldAtlas, https://www.worldatlas.com/articles/countries-with-the-largest-sikh-populations.html (accessed January 1, 2020).
  6. Ibid.
  7. M. Sudhir, ‘Research Reports: Philippines’, Global Sikh Consultation. October 24, 2019.
  8. Notably, Jagmeet Singh, party leader of the federal New Democratic Party, a major party in Canada, and Harjit Singh Sajjan, federal Liberal party politician, current Member of Parliament and Minister of National Defence and a Member of Parliament.
  9. See www.sikhconsultation.ca and read https://www.christianitytoday.com/edstetzer/2019/november/global-sikh-consultation-calling-sikhs-to-christ.html.
  10. See Lausanne Occasional Papers no. 14 and no. 55 at https://lausanne.org/category/content/lop.
  11. Read The Edmonton Appeal at https://lausanne.org/content/the-edmonton-appeal
  12. View the Jewish version of HaveYouHeard at https://haveyouheard.ca
  13. Read more at https://lausanne.org/content/whole-gospel-whole-church-whole-world

Author's Bio

Sadiri Joy Tira

Sadiri ‘Joy’ Tira (Doutor em Missiologia — DMiss, Western Seminary; Doutor em Ministério — DMin, Reformed Theological Seminary) é coordenador do Grupo Estratégico da Diáspora na América do Norte de Lausanne. Também serve como Especialista de Missiologia no Jaffray Centre for Global Initiatives na Ambrose University and Seminary (AUS), em Calgary, no Canadá; faz parte do Conselho Consultivo do Gospel-Life.net no Billy Graham Center na Wheaton College no Illinois, nos EUA, e do Conselho de Administração do SIM (Canada) e do MoveIn International. Joy contribui para o Gospel Life, a um recurso do Billy Graham Center (http://www.Gospel-Life.net/) e para «The Exchange with Ed Stetzer» (https://www.christianitytoday.com/edstetzer/) da Christianity Today.