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Introdução

A COVID-19 está forçando grande parte da população mundial a se conectar exclusivamente através da tecnologia móvel. Equipes de missões precisam aproveitar este momento, utilizando celulares de preço acessível, aplicativos seguros e aproveitando o amplo acesso à internet. A coordenação e comunicação com trabalhadores na linha de frente da evangelização está acontecendo através dessas novas ferramentas para cumprir a grande comissão de Cristo entre os não-alcançados.

  • Atualmente quais são as melhores ferramentas de comunicação para líderes de equipes transculturais monitorarem e apoiarem de forma efetiva os trabalhadores semialfabetizados em contextos de “acesso criativo”?[1]
  • Como os líderes de equipes podem aproveitar essas oportunidades para a expansão do evangelho?
  • Quais são os riscos? Quais cuidados devem ser observados?

70%

da população mundial terá um smartphone pessoal


Em 2016

51%

de todos os usuários de internet mundiais estavam na Ásia

Oportunidades

Acessibilidade aos smartphones

O Google prevê que neste ano, 70% da população mundial terá um smartphone pessoal. O custo dos smartphones caiu drasticamente devido ao sistema operacional Android, que é livremente distribuído. Os próximos quatro países a terem mais de um bilhão[2] de usuários de smartphone serão o Paquistão, Indonésia, Brasil e Índia.[3] O Google está desenvolvendo novas formas de aumentar a efetividade de dados para pessoas em países em desenvolvimento que pagam por megabyte.

Disponibilidade de internet móvel

Em 2016 Keethe Breene escreveu: “Mais de metade (51%) de todos os usuários de internet mundiais estão na Ásia: a China tem 1.3 bilhões de planos de celular, com uma população de 1.36 bilhões, enquanto a Índia possui 0.91 bilhões de planos de celular, em uma população de 1.25 bilhões.” [4]

De acordo com o Digital Ministry Atlas (Atlas de Ministério Digital, em tradução livre) produzido pelo Fórum de Ministério Móvel, entre 2011 e 2018, houve um aumento de 29% no número total de pessoas que estavam acessando a internet globalmente, e 53% ainda não tem acesso à internet.[5]

Facebook e a ascensão dos aplicativos de mensagem instantânea


Juntamente com o Google, o titã das redes sociais, Facebook, expressou seu interesse em facilitar o acesso à internet para o restante da população mundial. O artigo principal da revista Time de dezembro de 2014 intitulado “Metade do mundo não é o suficiente: o plano de Mark Zuckerberg todos os humanos ficarem online” (em tradução livre). [6]

Com estes desenvolvimentos, tem crescido o uso de aplicativos gratuitos para envio de mensagens e serviços. Muitos desses aplicativos de mensagens são projetados como uma extensão das redes sociais. Em 2014, o Facebook gastou 19 bilhões de dólares para comprar o aplicativo de mensagens instantâneas popular WhatsApp.[7]

O WhatsApp e o Facebook Messenger possuem os maiores números de usuários ativos no mundo, cerca de 1 bilhão cada.[8] “O Facebook domina o mercado em todos os lugares, exceto na China, com cerca de 1.3 bilhões de usuários de Messenger e 1.5 bilhões de usuários de WhatsApp.”[9]

Criptografia forte

Os usuários valorizam a segurança e privacidade que esses aplicativos oferecem. WhatsApp, Signal e Telegram (e alguns outros) afirmam usar padrões complexos de criptografia. O nível de segurança permite que os missionários mantenham contato em tempo real com sua equipe ativa com maior liberdade de comunicação.[10]

Possibilidades

Lançamento, apoio e direção da visão


Figura 1 “David Marcus no palco na conferência F8 Developers Conference 2015 do Facebook” foto por pestoverde licenciada sob CC por 2.0.

Pode ser difícil para líderes expatriados obter vistos para os países onde sua rede ou equipe esteja localizada, no entanto essas novas ferramentas oferecem uma forma de comunicação instantânea através de mensagens curtas. Fazedores de discípulos podem facilmente comunicar encorajamento, exortações, escrituras, canções, imagens, etc.[11]

Um dos grandes desenvolvimentos desses aplicativos é a possibilidade de gravar mensagens de voz, como um tipo de rádio comunicador, tipo “walkie talkie”. Essa funcionalidade é uma benção especialmente quando se está trabalhando com um idioma étnico minoritário que não possui forma escrita, ou (até mais provavelmente) trabalho com pessoas que ainda não são alfabetizadas. Considerando que uma porcentagem da população dos Grupos de Pessoas Não-Alcançados (GPNAs) [12] são analfabetos funcionais ou seus idiomas ainda não possuem forma escrita, o recurso de envio de mensagens de áudio é um tesouro.[13]

Monitoramento: relatórios em tempo real, solução de problemas e retorno

Usando essas ferramentas, os líderes podem receber relatórios do campo em tempo integral. A manhã pode começar com uma chamada em grupo com as equipes esboçando seus planos de viagem, orando uns com os outros e obtendo orientações do/a líder. Cada equipe envia mensagens quando chega ao seu destino, ou simplesmente tira uma foto do nome do vilarejo para que os outros membros saibam onde eles estão e possam apoiá-los em oração.

Os desafios

Desenvolvendo uma equipe que confia

Ferramentas de comunicações digitais são úteis para a eficiência, no entanto sua habilidade de formar relacionamentos profundos e de confiança é limitada, especialmente em sociedades comunitárias. Líderes de equipe sábios irão focar no relacionamento pessoal, ao vivo, com cada membro da equipe. Oportunidades regulares para um encontro como equipe ou grupo serão vitais para formar um senso de união, confiança e energia relacional. Aplicativos de mensagens são suplementares e apoiam os relacionamentos pessoais, mas não os substituem.

Questões de segurança

Existem alguns artigos úteis sobre segurança disponíveis no Electronic Freedom Foundation.[14] A Freedom House compilou e indexou uma grande base de dados sobre níveis relativos de controle governamental sobre o uso da internet.[15]

A tecnologia de reconhecimento facial está se desenvolvendo rapidamente.[16] As imagens de rostos compartilhadas livremente nas plataformas de redes sociais foram colhidas, não somente pelo Facebook e Google, mas também por agências que buscam desenvolver uma base de dados digital útil de todos os indivíduos do planeta.[17] Essa tecnologia será usada para rastrear equipes de missões. É uma solução simples para rastrear o movimento de pessoas, de encontros religiosos e treinamentos não autorizados. Os eventos recentes em Hong Kong demonstram que existem algumas medidas modestas disponíveis para mitigar o uso dessa tecnologia.[18]

Fatores geográficos

Ainda que cada vez menores, ainda existem regiões onde a rede 3G/4G ainda não chegou. Essas “zonas mortas” de internet terão de ser contornadas, e os trabalhadores de campo precisarão de preparo para registrar relatórios e salvá-los até quando encontrarem um bom sinal. Além disso, ainda existem vilarejos que precisam de eletricidade mais confiável para carregar os aparelhos celulares. Em locais assim, será necessário depender de baterias ou carregadores solares.

Habilidades a serem desenvolvidas

Conhecimentos básicos do aparelho e aplicativos

Talvez seja necessário realizar treinamentos de segurança, inclusive com dramatizações. Aprender a apagar mensagens e dados, uso de senhas de segurança e como responder às autoridades quando questionado/a, são algumas das questões importantes que devem ser discutidas antes de enviar missionários ao campo, especialmente em ambientes hostis onde há vigilância.

Conselhos de um líder de equipe

Um missionário que trabalha em um local de acesso criativo e que gerencia uma equipe dispersa de ministério nos dá os seguintes conselhos para gerenciar uma equipe grande usando o WhatsApp:

  1. Use o aplicativo com uma equipe específica; grupos muito grandes correm risco de se tornarem centros de spam.
  2. Use mensagens de texto quando possível. A maioria das equipes consegue ler mensagens de texto simples, além disso é mais fácil e mais direto do que enviar mensagens de voz.
  3. Utilize mensagens de voz concisas, em porções pequenas. Mensagens com vários minutos de duração são onerosas.
  4. Utilize as chamadas de voz, se possível, quando for mais seguro do que mensagens de voz. É importante garantir que a equipe tenha uma banda larga suficiente (é importante que eles tenham dinheiro suficiente para poder pagar pelos dados). Se o aspecto financeiro para compra de dados for problemático, mensagens de voz, vídeo e vídeo-chamadas não serão ferramentas apropriadas para comunicação em tempo real.
  5. Utilize a imagem com polegar para cima ou outros sinais simples para obter uma resposta simples e significativa da equipe.

Conclusão

A lacuna digital está se fechando rapidamente, e mesmo se os grupos menos alcançados ainda precisam começar a usar esses aparelhos, é provável que haverá cristãos com uma cultura semelhante que poderão acessar esses grupos. Assim como toda as tecnologias, os prós e contras dessas ferramentas são bem reais. Da mesma forma que o apóstolo Paulo usou pergaminhos e nanquim para manter contato com a igreja primitiva que ele ajudou a plantar, os missionários modernos precisam aproveitar a oportunidade de acesso que esse desenvolvimento nos oferece. Que o Senhor nos dê graça e sabedoria em todos nossos esforços.

Apêndice

  1. SIL Application Builder O Reading App Builder ajuda a criar aplicativos personalizados para smartphones e tablets Android e iOS. Você pode usá-lo para criar aplicativos contendo livros ilustrados, materiais de saúde e desenvolvimento da comunidade, livros de canções, histórias ilustradas e bibliotecas de livros fáceis de ler para novos leitores – cada um com a opção de sincronizar texto e áudio, destacando cada frase à medida que ela for lida. Os menus, ícone, tela e cores podem ser todos customizados de acordo com o idioma e cultura. https://software.sil.org/readingappbuilder/
  2. The Mobile Ministry Forum— “Um movimento de ministério telemóvel para os confins da terra. Junte-se a uma rede de missionários inovadores que promovem um movimento de ministério móvel, para que cada pessoa não alcançada tenha a chance de encontrar, experimentar e crescer em Cristo por meio de seu dispositivo móvel pessoal.” O Digital Ministry Atlas tem uma pesquisa extremamente valiosa. http://mobileministryforum.org
  3. Render“Uma ferramenta de software que orienta os comunicadores orais na criação de materiais orais culturalmente relevantes para seu próprio idioma. Essa ferramenta foi desenvolvida e projetada com o comunicador oral em mente, guiando o usuário através de um processo de tradução totalmente oral, ao escutar e falar.” https://renderpartners.com
  4. O site da Electronic Frontier Foundation sobre autodefesa de vigilância – “Uma organização dedicada a ajudar a proteger privacidade online de vigilância indesejada.” https://ssd.eff.org

Endnotes

  1. “Contextos de acesso criativo” se refere a locais onde o trabalho evangélico em público é restrito pelas autoridades.
  2. Nota da editora: Um seguido por nove zeros, ou seja, 1.000.000.000.
  3. ‘Google Puts Pakistan among 4 Countries That Will Give Next Billion Smartphone Users’, The Express Tribune, 30 November 2017, www.tribune.com.pk/story/1573034/2-google-puts-pakistan-among-4-countries-will-give-next-billion-smartphone-users/.
  4. Keith Breene, ‘What Is the Future of the Internet?’ World Economic Forum, 17 January 2016, www.weforum.org/agenda/2016/01/what-is-the-future-of-the-internet/.
  5. Clyde Taber, ‘Digital Ministry Atlas in 40 Least Reached Countries’, Mobile Ministry Forum, 28 March 2018, www.mobileministryforum.org/digital-terrain-in-40-of-the-least-reached-countries/.
  6. Lev Grossman, ‘Inside Facebook’s Plan To Wire the World’, Time, 15 December 2014, http://time.com/facebook-world-plan/
  7. Parmy Olson, ‘Facebook Closes $19 Billion WhatsApp Deal’, Forbes, 6 October 2014, www.forbes.com/sites/parmyolson/2014/10/06/facebook-closes-19-billion-whatsapp-deal/.
  8. Stephanie Newman, ‘The Messaging Phenomenon Has Hardly Begun’, Medium, 23 November 2015, www.medium.com/the-activate-outlook/the-messaging-phenomenon-has-hardly-begun-cdaeaf735cb2.
  9. Josh Constine, ‘WhatsApp Hits 1.5 Billion Monthly Users. $19B? Not So Bad’, TechCrunch, 31 January 2018, www.techcrunch.com/2018/01/31/whatsapp-hits-1-5-billion-monthly-users-19b-not-so-bad/.
  10. See Micah Lee, ‘Battle of the Secure Messaging Apps: How Signal Beats WhatsApp’, The Intercept, 22 June 2016, https://theintercept.com/2016/06/22/battle-of-the-secure-messaging-apps-how-signal-beats-whatsapp/, or Mark Williams, ‘Because Privacy Matters’, Secure Messaging Apps Comparison, 20 May 2018, www.securemessagingapps.com/.
  11. Nota da Editora: Veja o artigo de David Yeghnazar ‘A tecnologia pode ajudar a discipular novos cristãos no irão?’ na edição de janeiro de 2019 da Análise Global de Lausanne, https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2019-01-pt-br/a-tecnologia-pode-ajudar-a-discipular-novos-cristaos-no-irao 
  12. An Unreached People Group is commonly known as any distinguishable group of people of which less than 2 per cent self identifies as Christian. See website: https://joshuaproject.net/help/definitions#unreached
  13. Nota da Editora: Veja o artigo de Feruza Krason: ‘Fazendo discípulos com o aplicativo da Bíblia uzbeque’ na edição de novembro de 2019 da Análise Global de Lausanne https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2019-11-pt-br/fazendo-discipulos-com-o-aplicativo-da-biblia-uzbeque 
  14. ‘Surveillance Self-Defense’, Electronic Frontier Foundation, https://ssd.eff.org/
  15. ‘Freedom on the Net 2017: Manipulating Social Media to Undermine Democracy’, Freedom House, 26 January. 2018, https://freedomhouse.org/report/freedom-net/2017/manipulating-social-media-undermine-democracy.
  16. Paul Mozur, ‘Inside China’s Dystopian Dreams: A.I., Shame and Lots of Cameras’, The New York Times, 8 July 2018, www.nytimes.com/2018/07/08/business/china-surveillance-technology.html.
  17. Thomas Brewster, ‘These Ex-Spies Are Harvesting Facebook Photos For A Massive Facial Recognition Database’, Forbes, 16 April 2018, www.forbes.com/sites/thomasbrewster/2018/04/16/huge-facebook-facial-recognition-database-built-by-ex-israeli-spies/.
  18. Blake Schmidt, ‘Hong Kong police have AI facial recognition tech—are they using it against protesters?’ The Japan Times, 23 October 2019,www.japantimes.co.jp/news/2019/10/23/asia-pacific/hong-kong-protests-ai-facial-recognition-tech/#.XfidIi2B0Wo.

Crédito das fotos

“David Marcus on stage at Facebook’s F8 Developers Conference 2015”‘ by Maurizio Pesce (CC BY-NC-ND 2.0).

DJ Oden (pseudônimo) é um(a) trabalhador(a) transcultural no sudeste da Ásia com a PIONEERS e pode ser contatado/a pelo [email protected].